Modelo de Alegações Finais da Defesa em Processo Criminal por Descumprimento de Medida Protetiva (Lei Maria da Penha, Art. 24-A) – Contestação por Ausência de Ciência Inequívoca e Fragilidade Probatória

Publicado em: 03/11/2024 Direito Penal Processo Penal
Modelo de alegações finais apresentadas pela defesa em ação penal referente ao descumprimento de medida protetiva de urgência prevista na Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), art. 24-A. O documento destaca a ausência de demonstração inequívoca da ciência da medida protetiva pelo acusado, a inépcia da denúncia por falta de individualização da conduta, a insuficiência de provas quanto à data, contexto das mensagens e ao dolo, bem como fundamenta o pedido de absolvição com base no princípio do in dubio pro reo e jurisprudência correlata. Inclui pedidos subsidiários, como aplicação da pena mínima e benefícios legais em caso de eventual condenação.

ALEGAÇÕES FINAIS – DEFESA
PROCESSO Nº 0000640-36.202.8.17.4920

1. ENDEREÇAMENTO

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara Criminal da Comarca de Toritama/PE, Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco.

2. QUALIFICAÇÃO DAS PARTES

Acusado: R. R. da S., brasileiro, solteiro, desempregado, portador do CPF nº 000.000.000-00, residente e domiciliado na Rua Exemplo, nº 100, Bairro Centro, Toritama/PE, CEP 55125-000, endereço eletrônico: [email protected].
Defensor: Dr. A. B. de S., OAB/PE 00000, endereço profissional na Rua dos Advogados, nº 10, Centro, Toritama/PE, CEP 55125-000, endereço eletrônico: [email protected].

3. SÍNTESE DOS FATOS

O acusado, R. R. da S., foi denunciado pelo Ministério Público pela suposta prática do crime previsto no Lei 11.340/2006, art. 24-A, sob a alegação de que, no dia 20/11/2023, às 16h47min, no município de Toritama/PE, teria descumprido decisão judicial proferida nos autos do processo nº 0000640-36.202.8.17.4920, ao manter contato com a vítima por meio do aplicativo WhatsApp.

A denúncia baseia-se em registros de mensagens trocadas via aplicativo, as quais teriam sido enviadas após a concessão de medida protetiva de urgência em favor da suposta vítima, proibindo o acusado de se aproximar e de manter contato, por qualquer meio de comunicação.

O acusado, em sede policial, negou a intenção de descumprir ordem judicial, alegando que o contato se deu em contexto de discussão sobre assuntos familiares e que não tinha ciência inequívoca da vigência da medida à época dos fatos.

Durante a instrução, foram ouvidas a vítima e testemunhas, sendo juntados aos autos prints e registros das mensagens, sem, contudo, demonstração cabal da data exata do envio das mensagens e da ciência do acusado acerca da intimação da medida protetiva.

Assim, a presente defesa apresenta suas ALEGAÇÕES FINAIS, nos termos que seguem.

4. PRELIMINARES

4.1. Ausência de demonstração inequívoca da ciência da medida protetiva

A defesa destaca, preliminarmente, a ausência de comprovação nos autos de que o acusado foi devidamente intimado acerca da decisão judicial que impôs as medidas protetivas. Conforme entendimento consolidado, a configuração do delito previsto no Lei 11.340/2006, art. 24-A, exige a ciência inequívoca do destinatário quanto à existência e ao conteúdo da ordem judicial.

Não há nos autos certidão de intimação pessoal ou qualquer outro elemento que ateste, de forma clara, que o acusado tinha conhecimento formal da medida protetiva antes do suposto descumprimento.

Assim, a ausência de demonstração da ciência inequívoca da medida protetiva constitui óbice intransponível à configuração do delito, impondo-se o reconhecimento da atipicidade da conduta.

4.2. Inépcia da denúncia por ausência de individualização da conduta

A denúncia não descreve, de forma individualizada e precisa, a conduta do acusado, limitando-se a afirmar genericamente o descumprimento da decisão judicial, sem indicar de modo claro o conteúdo das mensagens, o contexto do contato e a data exata do envio, o que compromete o exercício do contraditório e da ampla defesa (CF/88, art. 5º, LV).

Diante disso, requer-se o reconhecimento das preliminares, com a consequente absolvição do acusado.

5. DO DIREITO

5.1. Tipicidade e Elementos do Crime do Lei 11.340/2006, art. 24-A

O crime de descumprimento de medida protetiva de urgência, previsto no Lei 11.340/2006, art. 24-A, exige, para sua configuração, a existência de decisão judicial válida, a ciência inequívoca do acusado acerca da medida e o efetivo descumprimento da ordem.

No caso dos autos, não restou comprovado, de forma segura, que o acusado foi devidamente intimado da decisão judicial antes do suposto contato com a vítima. A ausência de certidão de intimação ou outro meio hábil a demonstrar a ciência do acusado impede a configuração do dolo, elemento subjetivo indispensável ao tipo penal.

Ademais, a prova colhida em juízo não permite concluir, com a certeza necessária à condenação, que o acusado agiu com vontade livre e consciente de descumprir a ordem judicial. O conteúdo das mensagens, conforme registrado, limita-se a tratar de questões familiares, não havendo demonstração de intenção de afrontar a autoridade da"'>...

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Legislação e Jurisprudência sobre o tema
Informações complementares

Simulação de Voto

Relatório

Trata-se de ação penal movida pelo Ministério Público em face de R. R. da S., acusado da prática do crime previsto no art. 24-A da Lei 11.340/2006 (descumprimento de medida protetiva de urgência), consistente, segundo a denúncia, em manter contato com a vítima por meio do aplicativo WhatsApp, em 20/11/2023, após a concessão de medida protetiva nos autos do processo nº 0000640-36.202.8.17.4920, que proibia o acusado de se aproximar e de se comunicar, por qualquer meio, com a ofendida.

O acusado, em sede policial, alegou não ter ciência inequívoca da medida protetiva à época e afirmou que o contato se deu sobre assuntos familiares. Na instrução, foram ouvidas a vítima e testemunhas e juntados prints das mensagens, sem que restasse comprovada a data exata do envio ou a ciência formal do acusado quanto à medida.

Fundamentação

1. Da Preliminar – Ausência de Comprovação da Ciência Inequívoca da Medida Protetiva

A defesa sustenta, em preliminar, a ausência de demonstração inequívoca de que o acusado foi devidamente intimado acerca da existência e do conteúdo da medida protetiva. Com efeito, a jurisprudência pátria e o entendimento doutrinário são firmes no sentido de que a configuração do delito tipificado no art. 24-A da Lei 11.340/2006 depende da ciência formal e inequívoca da ordem judicial pelo destinatário, sob pena de se comprometer o princípio da legalidade (CF/88, art. 5º, II) e do contraditório e ampla defesa (CF/88, art. 5º, LV).

No caso concreto, não há nos autos certidão de intimação pessoal, tampouco outro elemento hábil a demonstrar que o acusado tinha conhecimento formal da referida medida à época do suposto descumprimento.

2. Da Tipicidade da Conduta e Elementos Subjetivos

O crime de descumprimento de medida protetiva exige, além da existência da decisão judicial, que o agente tenha ciência inequívoca do teor da ordem judicial e, ainda, o dolo de descumpri-la. A ausência de elementos que atestem a intimação formal do acusado e a fragilidade probatória quanto à intenção deliberada de descumprir a medida inviabilizam a configuração do tipo penal imputado.

Ressalta-se, ainda, a ausência de prova segura quanto à data exata das mensagens e ao contexto em que foram enviadas, não sendo possível afirmar com segurança que houve violação dolosa da ordem judicial.

3. Do Princípio do In Dubio Pro Reo

O princípio do in dubio pro reo, consagrado no art. 386, VII, do CPP e no art. 5º, LVII, da CF/88, determina que, em caso de dúvida razoável quanto à autoria ou materialidade do delito, impõe-se a absolvição do acusado. No presente feito, não há prova cabal da ciência da medida protetiva nem do dolo do acusado, circunstâncias que recomendam a solução absolutória.

4. Jurisprudência Aplicável

A jurisprudência dos tribunais pátrios reforça o entendimento de que a ausência de comprovação da ciência inequívoca da medida protetiva e a insegurança quanto à data e ao contexto das mensagens inviabilizam a condenação, devendo prevalecer a absolvição (TJRJ, Apelação Acórdão/TJRJ, Rel. Des. Adriana Lopes Moutinho Daudt D'Oliveira, julgado em 15/05/2024; Apelação Acórdão/TJRJ, Rel. Des. Cairo Ítalo FranÇa David, julgado em 04/04/2024).

5. Princípios Constitucionais

O art. 1º, III, da CF/88 consagra a dignidade da pessoa humana, enquanto o art. 5º, II, da CF/88 veda a responsabilização penal sem demonstração inequívoca dos elementos do tipo. O art. 93, IX, da CF/88, por sua vez, exige a fundamentação de todas as decisões judiciais, o que se observa no presente voto.

Dispositivo

Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE a pretensão punitiva e ABSOLVO o acusado R. R. da S., com fundamento no art. 386, VII, do Código de Processo Penal, em razão da ausência de provas suficientes para a condenação.

Deixo de conhecer eventuais recursos interpostos pelo Ministério Público que não estejam devidamente fundamentados, em respeito ao princípio do contraditório e ampla defesa (CF/88, art. 5º, LV).

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Conclusão

Em síntese, a ausência de comprovação da ciência inequívoca da medida protetiva, aliada à fragilidade das provas quanto ao dolo e ao contexto da comunicação, impõe a absolvição do acusado, em estrita observância ao devido processo legal, ao princípio do in dubio pro reo e aos direitos fundamentais previstos na Constituição Federal.

Toritama/PE, 20 de junho de 2024.

___________________________________
Magistrado(a)


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