Modelo de Apelação Criminal: Pedido de Desclassificação de Incêndio para Dano Qualificado e Readequação de Pena

Publicado em: 11/10/2024 Direito Penal Processo Penal
Apelação Criminal interposta por A. J. dos S., condenado por incêndio (CP, art. 250), com pedido de desclassificação para o crime de dano qualificado (CP, art. 163, parágrafo único, III), em razão da ausência de perigo comum. A defesa requer ainda o reconhecimento da atenuante da confissão espontânea, o afastamento de maus antecedentes e de agravantes indevidas, bem como a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos. Fundamentação jurídica baseada no CPP, art. 593, I, e na jurisprudência do STJ.

APELAÇÃO CRIMINAL

1. ENDEREÇAMENTO

Excelentíssimo Senhor Desembargador Presidente do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Piauí

2. PREÂMBULO

A. J. dos S., já qualificado nos autos da Ação Penal nº 0000000-00.2023.8.18.0002, que lhe move o Ministério Público do Estado do Piauí, por seu advogado infra-assinado, com endereço eletrônico constante dos autos, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento no CPP, art. 593, I, interpor a presente

APELAÇÃO CRIMINAL

contra a r. sentença proferida pelo Juízo da 2ª Vara Criminal da Comarca de Teresina/PI, que o condenou pela prática do crime previsto no CP, art. 250, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas.

3. TEMPESTIVIDADE

A sentença foi publicada em 10 de outubro de 2024, sendo esta apelação interposta no último dia do prazo legal de 5 (cinco) dias úteis, conforme o CPP, art. 593, caput, razão pela qual é tempestiva.

4. DOS FATOS

O apelante foi denunciado pela prática do crime de incêndio, previsto no CP, art. 250, por ter, no dia 04 de março de 2023, ateado fogo em imóvel pertencente à sua família, localizado em área rural e desabitada, motivado por desentendimentos familiares e frustração com a falta de apoio no tratamento contra dependência química.

O imóvel encontrava-se desabitado e isolado, sem risco de propagação do fogo a outros bens ou pessoas. O réu confessou espontaneamente a prática do delito, e o laudo pericial confirmou a destruição do imóvel, mas sem qualquer risco concreto à coletividade.

O juízo de primeiro grau condenou o réu à pena de 03 (três) anos e 08 (oito) meses de reclusão, em regime semiaberto, além de 15 dias-multa, sem substituição da pena privativa de liberdade, reconhecendo a existência de maus antecedentes e agravante pelo meio empregado.

5. DO DIREITO

5.1. DA DESCLASSIFICAÇÃO PARA O CRIME DE DANO QUALIFICADO

O tipo penal do CP, art. 250 exige a ocorrência de perigo comum, ou seja, que o incêndio tenha o potencial de atingir bens ou pessoas além do objeto diretamente atingido. No caso em tela, o imóvel incendiado era isolado, desabitado e não havia qualquer risco de propagação do fogo a terceiros.

A jurisprudência tem entendido que, ausente o perigo comum, a conduta deve ser desclassificada para o crime de dano qualificado (CP, art. 163, parágrafo único, III), especialmente quando o agente atua com dolo de destruição patrimonial e não de causar perigo à coletividade.

Assim, requer-se a desclassificação da conduta para o crime de dano qualificado, por ausência de perigo comum, elemento essencial ao tipo penal do CP, art. 250.

5.2. DA APLICAÇÃO DA ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA

O réu confessou integralmente a prática delitiva, tanto na fase policial quanto em juízo, o que demonstra colaboração com a Justiça e deve ser reconhecido como atenuante, nos termos do CP, art. 65, III, d.

Ainda que a pena-base tenha sido fixada acima do mínimo legal, a ausência de reconhecimento da atenuante da confissão espontânea configura violação ao princípio da individualização da pena (CF/88, art. 5º, XLVI) e ao devido processo legal substancial.

5.3. DA INEXISTÊNCIA DE MAUS ANTECEDENTES

A sentença reconheceu maus antecedentes com base em condenação anterior por tráfico de drogas, com trânsito em julgado em 10 de março de 2020. Contudo, tal condenação já foi utilizada para agravar a pena em outro processo e, portanto, não pode ser novamente considerada como maus antecedentes, sob pena de bis in idem.

Ademais, a jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que, após o decurso de 5 anos do cumprimento da pena, a condenação anterior não pode ser consid"'>...

Para ter acesso a íntegra dessa peça processual Adquira um dos planos de acesso do site, ou caso você já esteja cadastrado ou já adquiriu seu plano clique em entrar no topo da pagina:


Copyright LEGJUR
Todos os modelos de documentos do site Legjur são de uso exclusivo do assinante. É expressamente proibida a reprodução, distribuição ou comercialização destes modelos sem a autorização prévia e por escrito da Legjur.
Legislação e Jurisprudência sobre o tema
Informações complementares

Simulação de Voto

Voto do Relator

Trata-se de Apelação Criminal interposta por A. J. dos S., em face da sentença proferida pelo Juízo da 2ª Vara Criminal da Comarca de Teresina/PI, que o condenou à pena de 03 (três) anos e 08 (oito) meses de reclusão, em regime semiaberto, além de 15 dias-multa, pela prática do crime previsto no art. 250 do Código Penal.

1. Do conhecimento do recurso

Inicialmente, verifico que o recurso é tempestivo, nos termos do art. 593, caput, do Código de Processo Penal, haja vista que foi interposto dentro do prazo legal de 5 (cinco) dias úteis após a publicação da sentença. Preenchidos os demais requisitos de admissibilidade, conheço da apelação.

2. Da desclassificação do crime

O apelante foi condenado com base no art. 250 do Código Penal, que exige, como elemento típico, a exposição da coletividade a perigo comum. No entanto, restou incontroverso nos autos que o imóvel incendiado era desabitado, situado em área rural isolada e sem risco de propagação a outros bens ou pessoas.

Nessas condições, não se verifica o perigo comum exigido para a configuração do delito de incêndio, razão pela qual entendo pela desclassificação da conduta para o crime de dano qualificado, nos termos do art. 163, parágrafo único, III, do Código Penal.

3. Da confissão espontânea

O réu confessou integralmente o fato delituoso tanto na fase policial quanto em juízo, demonstrando colaboração com a Justiça. Assim, deve ser reconhecida a atenuante da confissão espontânea, prevista no art. 65, III, "d", do Código Penal.

4. Dos maus antecedentes

A sentença de primeiro grau fundamentou a existência de maus antecedentes com base em condenação anterior por tráfico de drogas. Todavia, conforme jurisprudência consolidada do STJ, uma mesma condenação não pode ser usada para agravar a pena em mais de um processo, sob pena de bis in idem. Ademais, ultrapassado o prazo de 5 anos do cumprimento da pena, não se pode considerar tal condenação como maus antecedentes, nos termos do art. 64, I, do Código Penal.

Diante disso, afasto a consideração dos maus antecedentes.

5. Da agravante do art. 61, II, “b” do Código Penal

A agravante prevista no art. 61, II, "b", do Código Penal exige que o meio empregado cause perigo comum, o que, no caso concreto, não se verificou. O imóvel era isolado e desabitado, e o uso de gasolina, ainda que perigoso, não resultou em risco concreto à coletividade. Assim, afasto a referida agravante.

6. Da substituição da pena privativa de liberdade

A pena aplicada, após a readequação, permite a substituição por pena restritiva de direitos, nos termos do art. 44 do Código Penal. O réu é primário, confessou o crime e não há elementos que contraindiquem tal substituição. A negativa fundada na gravidade abstrata do delito viola o princípio da individualização da pena (art. 5º, XLVI, da Constituição Federal).

Assim, entendo ser cabível a substituição da pena privativa de liberdade por duas penas restritivas de direitos, a serem definidas pelo juízo da execução penal.

7. Dispositivo

Diante do exposto, com fundamento no art. 93, IX, da Constituição Federal, VOTO NO SENTIDO DE DAR PROVIMENTO AO RECURSO para:

  • Desclassificar a conduta imputada de incêndio (art. 250 do Código Penal) para o crime de dano qualificado (art. 163, parágrafo único, III, do Código Penal);
  • Reconhecer a atenuante da confissão espontânea (art. 65, III, "d", do Código Penal);
  • Afastar os maus antecedentes considerados na sentença;
  • Afastar a agravante do art. 61, II, "b", do Código Penal;
  • Substituir a pena privativa de liberdade por duas penas restritivas de direitos, a serem fixadas pelo juízo da execução penal.

É como voto.

Tribunal de Justiça do Estado do Piauí

Sala das Sessões, ___ de ____________ de 2024.

_______________________________
Desembargador Relator


solicite seu modelo personalizado

Solicite Seu Modelo de Peça Processual Personalizado!

Sabemos que cada processo é único e merece um modelo de peça processual que reflita suas especificidades. Por isso, oferecemos a criação de modelos de peças processuais personalizados, partindo de um modelo básico adaptável às suas exigências. Com nosso serviço, você tem a segurança de que sua documentação jurídica será profissional e ajustada ao seu caso concreto. Para solicitar seu modelo personalizado, basta clicar no link abaixo e nos contar sobre as particularidades do seu caso. Estamos comprometidos em fornecer a você uma peça processual que seja a base sólida para o seu sucesso jurídico. Solicite aqui

Outras peças semelhantes

Modelo de Apelação Criminal contra Sentença Condenatória por Incêndio Majorado com Pedido de Absolvição, Desclassificação ou Redução de Pena

Modelo de Apelação Criminal contra Sentença Condenatória por Incêndio Majorado com Pedido de Absolvição, Desclassificação ou Redução de Pena

Publicado em: 20/08/2024 Direito Penal Processo Penal

O documento apresenta razões de apelação interpostas pelo advogado do réu contra sentença condenatória proferida pelo Juízo de primeiro grau. O réu foi condenado à pena de 05 anos, 05 meses e 10 dias de reclusão, em regime semiaberto, além de 16 dias-multa, pela prática do crime de incêndio majorado, previsto no art. 250, caput, §1º, inciso II, alínea "a", do Código Penal. São apresentados argumentos baseados na insuficiência de provas, no pedido de desclassificação para incêndio culposo, ou, alternativamente, na redução da pena e abrandamento do regime prisional. O recurso está fundamentado no art. 593, inciso I, do CPP, e conta com jurisprudências que sustentam os pedidos apresentados.

Acessar

Modelo de Ação de Cobrança de Seguro Residencial por Incêndio Cumulada com Indenização por Danos Morais contra Seguradora: Fundamentos no Código Civil e Código de Defesa do Consumidor

Modelo de Ação de Cobrança de Seguro Residencial por Incêndio Cumulada com Indenização por Danos Morais contra Seguradora: Fundamentos no Código Civil e Código de Defesa do Consumidor

Publicado em: 02/11/2024 Direito Penal Processo Penal

Petição inicial de ação judicial movida por segurado em face de seguradora, visando a cobrança do valor integral da indenização securitária decorrente de sinistro (incêndio residencial) e pleito de indenização por danos morais. O documento detalha a relação contratual, a negativa indevida e abusiva da cobertura pela seguradora, os fundamentos jurídicos relevantes (Código Civil, Código de Defesa do Consumidor, princípios da boa-fé objetiva, proteção do consumidor e dignidade da pessoa humana), e apresenta jurisprudência relacionada. Inclui ainda os pedidos de condenação da ré ao pagamento dos valores devidos, inversão do ônus da prova, custas, honorários e demais requerimentos processuais.

Acessar

Modelo de Ação de Indenização por Danos Materiais e Morais Relativos a Incêndio Criminoso e Ofensas Morais em Contexto de Conflito de Vizinhança

Modelo de Ação de Indenização por Danos Materiais e Morais Relativos a Incêndio Criminoso e Ofensas Morais em Contexto de Conflito de Vizinhança

Publicado em: 25/04/2024 Direito Penal Processo Penal

Petição inicial de ação indenizatória por danos materiais e morais, apresentada por A. J. dos S. contra C. E. da S., relatando atos ilícitos praticados pelo réu, como tentativa de incêndio em imóvel, danos ao veículo da autora e ofensas morais que resultaram em abalo emocional. Fundamentada na Constituição Federal (art. 1º, III, e art. 5º, X), no Código Civil (arts. 927 e 944) e no Código Penal (art. 250), a ação busca reparação integral pelos prejuízos materiais e morais causados, com base em jurisprudência do TJSP. Requer a condenação do réu ao pagamento de indenizações e demais medidas legais.

Acessar

Você está prestes a dar um passo crucial para aperfeiçoar a sua prática jurídica! Bem-vindo ao LegJur, seu recurso confiável para o universo do Direito.

Ao adquirir a assinatura do nosso site, você obtém acesso a um repositório completo de modelos de petição. Preparados por especialistas jurídicos com vasta experiência na área, nossos modelos abrangem uma ampla gama de situações legais, permitindo que você tenha uma base sólida para elaborar suas próprias petições, economizando tempo e garantindo a excelência técnica.

Mas a LegJur oferece muito mais do que isso! Com a sua assinatura, você também terá acesso a uma biblioteca abrangente de eBooks jurídicos, conteúdo atualizado de legislação, jurisprudência cuidadosamente selecionada, artigos jurídicos de alto nível e provas anteriores do Exame da Ordem. É tudo o que você precisa para se manter atualizado e preparado na sua carreira jurídica.

Na LegJur, temos o objetivo de fornecer as ferramentas essenciais para estudantes e profissionais do Direito. Quer você esteja se preparando para um processo, estudando para um concurso ou apenas buscando expandir seu conhecimento jurídico, a LegJur é a sua parceira confiável.

Investir na assinatura LegJur é investir na sua carreira, no seu futuro e no seu sucesso. Junte-se a nós e veja por que a LegJur é uma ferramenta indispensável no mundo jurídico.

Clique agora para fazer a sua assinatura e revolucione a maneira como você lida com o Direito. LegJur: seu parceiro para uma carreira jurídica brilhante.

Assine já e tenha acesso imediato a todo o conteúdo
Veja aqui o que o legjur pode lhe oferecer

Assinatura Mensal

Assine o LegJur e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos! Cancele a qualquer hora.

R$ 29,90

À vista

1 mês

Acesse o LegJur por 1 mês e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!

R$ 39,90

Parcele em até 3x sem juros

3 meses

Equilave a R$ 39,96 por mês

Acesse o LegJur por 3 meses e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!

R$ 119,90

Parcele em até 6x sem juros

6 meses

Equilave a R$ 32,48 por mês

Acesse o LegJur por 6 meses e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!

R$ 194,90

Parcele em até 6x sem juros

12 meses + 2 meses de Brinde

Equilave a R$ 24,90 por mês

Acesse o LegJur por 1 ano e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!

R$ 349,90

Parcele em até 10x sem juros

A cópia de conteúdo desta área está desabilitada, para copiar o conteúdo você deve ser assinante do site.