Modelo de Defesa prévia ao Conselho de Ética da OAB/MS em pedido de inscrição originária por advogado com condenação penal não transitada em julgado, fundamentada na presunção de inocência e idoneidade moral

Publicado em: 28/04/2025 AdvogadoProcesso CivilÉtica Direito Penal
Defesa prévia apresentada ao Conselho Seccional da OAB/MS em resposta ao pedido de inscrição originária de advogado que enfrenta condenação penal ainda sem trânsito em julgado, argumentando ausência de dolo, boa-fé, presunção de inocência constitucional e jurisprudência favorável, requerendo o deferimento da inscrição ou, subsidiariamente, o sobrestamento até decisão definitiva do processo penal.

DEFESA PRÉVIA AO CONSELHO DE ÉTICA DA OAB/MS
Processo n. 53409/2025 – Pedido de Inscrição Originária

1. ENDEREÇAMENTO

À ILUSTRÍSSIMA 8ª CÂMARA JULGADORA DE SELEÇÃO E INSCRIÇÃO
DO CONSELHO SECCIONAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL – SECCIONAL DE MATO GROSSO DO SUL

2. QUALIFICAÇÃO DAS PARTES

Requerente: J. N. de O., brasileiro, solteiro, engenheiro civil e bacharel em Direito, inscrito no CPF sob o n. 123.456.789-00, portador do RG n. 12.345.678-9, endereço eletrônico: [email protected], residente e domiciliado na Rua das Flores, n. 100, Bairro Centro, Colíder/MS, CEP 00000-000.
Requerido: Conselho Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional de Mato Grosso do Sul, Subseção de Colíder, endereço eletrônico: [email protected], com sede na Rua Advogado, n. 200, Centro, Campo Grande/MS, CEP 79000-000.
Relator: M. P. K.
Valor da causa: R$ 1.000,00 (mil reais), para fins meramente estimativos, conforme CPC/2015, art. 319, V.

3. SÍNTESE DOS FATOS

O requerente, J. N. de O., bacharel em Direito, aprovado no Exame da Ordem, requereu sua inscrição originária junto à OAB/MS. Durante a análise documental, declarou que responde a processo penal em trâmite no E. TRF2, Apelação n. 981329685.2020.4.03.7000, referente à condenação em primeira instância pelo crime previsto no CP, art. 296, § 1º, III, por uso indevido de símbolos da Polícia Federal, em contexto de brincadeira universitária, durante festa junina, quando, ainda acadêmico de Engenharia, postou fotos em redes sociais (Instagram “@leão_jaulalivre”) trajando figurino de policial federal.

O processo penal resultou em condenação a 2 anos de reclusão em regime inicial semiaberto e 10 dias-multa, pena substituída por restritiva de direitos (prestação de serviços à comunidade e pecuniária). O requerente interpôs recurso de apelação, pendente de julgamento, e não foi intimado para audiência judicial, acreditando que o procedimento estava encerrado após advertência do Delegado Federal, conforme certidão negativa expedida pelo TRF2 em 25/04/2025.

Em 25/04/2025, ao ser informado do encaminhamento do pedido de inscrição ao Conselho de Ética para análise de idoneidade, o requerente apresentou nova certidão de “nada consta”, que permaneceu negativa, reforçando sua boa-fé e ausência de antecedentes impeditivos.

4. PRELIMINARES

4.1. Da Ausência de Trânsito em Julgado da Condenação Penal
O requerente não possui condenação penal transitada em julgado, conforme certidão negativa expedida pelo TRF2. Nos termos do CCB/2002, art. 5º, a presunção de inocência é princípio constitucional (CF/88, art. 5º, LVII), não sendo possível considerar a condenação em primeira instância como óbice à inscrição, enquanto pendente de recurso, sob pena de violação ao devido processo legal e à ampla defesa (CF/88, art. 5º, LIV e LV).

4.2. Da Atipicidade Social da Conduta e Ausência de Dolo Específico
Os fatos narrados decorreram de contexto universitário, sem intenção de obter vantagem ilícita ou enganar terceiros, não havendo dolo específico de usurpação de função pública ou de prática reiterada de conduta inidônea. A conduta, ainda que tecnicamente típica, não possui gravidade suficiente para macular a idoneidade moral do requerente, especialmente diante da ausência de antecedentes e da natureza episódica do evento.

5. DO DIREITO

5.1. Dos Requisitos para Inscrição Originária na OAB

O Estatuto da Advocacia (Lei 8.906/1994, art. 8º, VI) exige “idoneidade moral” para inscrição nos quadros da OAB, sendo vedada a inscrição de quem tenha sido condenado por crime infamante, salvo reabilitação (Lei 8.906/1994, art. 8º, VI e parágrafo único). A idoneidade deve ser aferida à luz do princípio da presunção de inocência (CF/88, art. 5º, LVII), não podendo ser afastada por condenação não transitada em julgado.

O Superior Tribunal de Justiça consolidou entendimento de que a existência de processo penal em curso, ou mesmo condenação recorrível, não é suficiente para afastar a idoneidade moral, devendo-se aguardar o trânsito em julgado da decisão condenatória (REsp 1.815.461/AL/STJ, Rel. Minª. Assusete Magalhães, DJ 29/03/2021).

5.2. Da Proporcionalidade e Razoabilidade na Aferição da Idoneidade

O princípio da proporcionalidade (CF/88, art. 5º, LIV) impõe que a restrição de direitos fundamentais, como o exercício profissional, seja medida excepcional, justificada apenas diante de conduta grave, reiterada e incompatível com a advocacia. No caso, o requerente não praticou crime funcional, tampouco agiu com dolo de lesar a Administração ou terceiros, tratando-se de ato isolado, sem repercussão social relevante.

5.3. Da Boa-fé, Ausência de Mácula e Certidão Negativa

O requerente agiu de boa-fé ao declarar espontaneamente a existência do processo penal, apresentando certidão negativa de antecedentes, o que demo"'>...

Para ter acesso a íntegra dessa peça processual Adquira um dos planos de acesso do site, ou caso você já esteja cadastrado ou já adquiriu seu plano clique em entrar no topo da pagina:


Copyright LEGJUR
Todos os modelos de documentos do site Legjur são de uso exclusivo do assinante. É expressamente proibida a reprodução, distribuição ou comercialização destes modelos sem a autorização prévia e por escrito da Legjur.
Informações complementares

Simulação de Voto

Relatório

Trata-se de análise do pedido de inscrição originária nos quadros da OAB/MS, formulado por J. N. de O., bacharel em Direito e aprovado no Exame da Ordem, cuja idoneidade moral foi questionada em razão de condenação em primeira instância pelo crime do CP, art. 296, § 1º, III, referente ao uso indevido de símbolos da Polícia Federal, em contexto festivo universitário. O requerente recorreu da condenação, estando pendente de julgamento no TRF2, não havendo trânsito em julgado, conforme certidão negativa juntada aos autos.

Em defesa, alega o requerente a presunção de inocência, a atipicidade social da conduta e a ausência de antecedentes impeditivos. Postula o afastamento de qualquer presunção de inidoneidade e, subsidiariamente, o sobrestamento do pedido de inscrição até o trânsito em julgado da ação penal.

Voto

1. Da Fundamentação Constitucional e Legal

Nos termos da CF/88, art. 93, IX, \"todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade\". Assim, passo à análise fundamentada dos fatos e do direito aplicável.

A CF/88, art. 5º, LVII, consagra a presunção de inocência, estabelecendo que \"ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória\". O Estatuto da Advocacia (Lei 8.906/1994, art. 8º, VI) exige idoneidade moral para a inscrição na OAB, vedando-a apenas a quem tenha sido condenado por crime infamante, salvo reabilitação.

O Superior Tribunal de Justiça, no REsp Acórdão/STJ, consolidou o entendimento de que a mera existência de processo penal em curso ou de condenação não transitada em julgado não obsta, por si só, a inscrição do bacharel nos quadros da OAB, devendo-se aguardar o trânsito em julgado de eventual condenação para que se possa afastar a idoneidade moral do requerente.

Ademais, o princípio da proporcionalidade (CF/88, art. 5º, LIV) impõe que restrições ao exercício profissional sejam justificadas apenas em casos de notória gravidade, reiterados ou incompatíveis com as finalidades da advocacia. No presente caso, a conduta, embora tecnicamente típica, deu-se em contexto universitário, sem dolo específico de lesar a Administração Pública ou obter vantagem ilícita.

Ressalto, ainda, que o requerente agiu de boa-fé ao declarar a existência do processo penal e apresentar certidão negativa de antecedentes, inexistindo outros registros desabonadores que possam macular sua idoneidade moral.

2. Da Inexistência de Trânsito em Julgado e da Presunção de Inocência

Comprovado nos autos que não há condenação penal transitada em julgado em desfavor do requerente, não se pode presumir sua inidoneidade, sob pena de afronta à garantia constitucional do devido processo legal e da ampla defesa (CF/88, art. 5º, LIV e LV).

A jurisprudência majoritária dos tribunais superiores reitera que somente o trânsito em julgado de sentença penal condenatória pode ensejar a restrição do exercício de direitos fundamentais, como o acesso à advocacia, sob pena de violação ao Estado Democrático de Direito (CF/88, art. 1º, III).

3. Da Possibilidade de Sobrestamento

Em situações análogas, admite-se o sobrestamento do pedido de inscrição até o trânsito em julgado da ação penal, evitando-se prejulgamento e assegurando-se o contraditório e ampla defesa, conforme precedentes do TJRJ e do próprio STJ.

Contudo, no caso dos autos, considerando a ausência de antecedentes, a natureza episódica e não reiterada da conduta e a boa-fé demonstrada pelo requerente, entendo não ser razoável impor-lhe óbice à inscrição originária, sob pena de ferir os princípios da proporcionalidade, da dignidade da pessoa humana e do livre exercício profissional (CF/88, art. 5º, XIII).

4. Da Conclusão

Ante o exposto, com fundamento na CF/88, art. 5º, LVII, XIII, LIV e CF/88, art. 93, IX, Lei 8.906/1994, art. 8º, VI, e considerando o entendimento consolidado pelo Superior Tribunal de Justiça, julgo procedente o pedido do requerente para reconhecer a ausência de impedimento legal ou ético à sua inscrição originária nos quadros da OAB/MS, deferindo o pedido, por não haver condenação penal transitada em julgado ou outro fato desabonador a macular sua idoneidade moral.

Caso sobrevenha trânsito em julgado de sentença penal condenatória em desfavor do requerente, deverá o Conselho Seccional ser comunicado para adoção das providências cabíveis.

5. Dispositivo

Ante o exposto, conheço do pedido e o julgo procedente, deferindo a inscrição originária de J. N. de O. nos quadros da OAB/MS, nos termos da fundamentação.

É como voto.

 

Campo Grande/MS, 30 de junho de 2025.

___________________________
Magistrado Relator


solicite seu modelo personalizado

Solicite Seu Modelo de Peça Processual Personalizado!

Sabemos que cada processo é único e merece um modelo de peça processual que reflita suas especificidades. Por isso, oferecemos a criação de modelos de peças processuais personalizados, partindo de um modelo básico adaptável às suas exigências. Com nosso serviço, você tem a segurança de que sua documentação jurídica será profissional e ajustada ao seu caso concreto. Para solicitar seu modelo personalizado, basta clicar no link abaixo e nos contar sobre as particularidades do seu caso. Estamos comprometidos em fornecer a você uma peça processual que seja a base sólida para o seu sucesso jurídico. Solicite aqui

Outras peças semelhantes

Modelo de Declaração de Idoneidade Moral e Reputação Ilibada para Participação em Concurso Público pelo Advogado A.J. dos S., fundamentada na CF/88, art. 37 e legislação correlata

Modelo de Declaração de Idoneidade Moral e Reputação Ilibada para Participação em Concurso Público pelo Advogado A.J. dos S., fundamentada na CF/88, art. 37 e legislação correlata

Publicado em: 28/04/2025 AdvogadoProcesso CivilÉtica Direito Penal

Modelo de declaração formal em que o advogado A.J. dos S. atesta sua idoneidade moral e reputação ilibada, comprovando não possuir antecedentes criminais ou civis, para atender exigência editalícia de concurso público, respaldado na Constituição Federal, Código Civil, CPC e jurisprudência do STJ e TJSP. Inclui compromisso de veracidade e autorização para verificação das informações.

Acessar

Modelo de Defesa Prévia em Processo Ético-Disciplinar no COREN/SP: Alegação de Inexistência de Infração Ética por Recusa de Função sem Qualificação Específica, com Fundamentação Constitucional e Pedido de Absolvição

Modelo de Defesa Prévia em Processo Ético-Disciplinar no COREN/SP: Alegação de Inexistência de Infração Ética por Recusa de Função sem Qualificação Específica, com Fundamentação Constitucional e Pedido de Absolvição

Publicado em: 16/04/2025 AdvogadoProcesso CivilÉtica Direito Penal

Modelo de defesa prévia apresentada por enfermeiro perante o Conselho Regional de Enfermagem do Estado de São Paulo (COREN/SP), em processo ético-disciplinar instaurado por suposta infração decorrente da recusa em assumir função de Chefe de Guarnição de viatura de emergência, sob a justificativa de ausência de qualificação específica. A peça detalha a qualificação das partes, sintetiza os fatos, aborda preliminares quanto à regularidade processual, fundamenta a defesa com base em princípios constitucionais como contraditório, ampla defesa, legalidade, razoabilidade, proporcionalidade, dignidade da pessoa humana e presunção de inocência, e sustenta a legalidade da conduta à luz do Código de Ética da Enfermagem e legislação correlata. Inclui jurisprudência pertinente, pedidos de absolvição ou aplicação de penalidade mais branda, requerimento de provas e demais providências processuais. Indicado para advogados que atuam em processos administrativos disciplinares no âmbito de conselhos profissionais.

Acessar

Modelo de Defesa em Procedimento Ético Perante Conselho de Ética: Nulidade Processual e Improcedência de Acusação

Modelo de Defesa em Procedimento Ético Perante Conselho de Ética: Nulidade Processual e Improcedência de Acusação

Publicado em: 19/09/2024 AdvogadoProcesso CivilÉtica Direito Penal

Defesa apresentada em procedimento ético instaurado perante Conselho de Ética, abordando alegações de infração ética e requerendo a nulidade do processo em razão de vícios processuais, ou, alternativamente, a improcedência da acusação por ausência de dolo ou má-fé. Fundamentada em direitos constitucionais, como o contraditório e a ampla defesa, a peça destaca a necessidade de comprovação robusta para configurar infração ética e apresenta jurisprudências que reforçam os argumentos.

Acessar

Você está prestes a dar um passo crucial para aperfeiçoar a sua prática jurídica! Bem-vindo ao LegJur, seu recurso confiável para o universo do Direito.

Ao adquirir a assinatura do nosso site, você obtém acesso a um repositório completo de modelos de petição. Preparados por especialistas jurídicos com vasta experiência na área, nossos modelos abrangem uma ampla gama de situações legais, permitindo que você tenha uma base sólida para elaborar suas próprias petições, economizando tempo e garantindo a excelência técnica.

Mas a LegJur oferece muito mais do que isso! Com a sua assinatura, você também terá acesso a uma biblioteca abrangente de eBooks jurídicos, conteúdo atualizado de legislação, jurisprudência cuidadosamente selecionada, artigos jurídicos de alto nível e provas anteriores do Exame da Ordem. É tudo o que você precisa para se manter atualizado e preparado na sua carreira jurídica.

Na LegJur, temos o objetivo de fornecer as ferramentas essenciais para estudantes e profissionais do Direito. Quer você esteja se preparando para um processo, estudando para um concurso ou apenas buscando expandir seu conhecimento jurídico, a LegJur é a sua parceira confiável.

Investir na assinatura LegJur é investir na sua carreira, no seu futuro e no seu sucesso. Junte-se a nós e veja por que a LegJur é uma ferramenta indispensável no mundo jurídico.

Clique agora para fazer a sua assinatura e revolucione a maneira como você lida com o Direito. LegJur: seu parceiro para uma carreira jurídica brilhante.

Assine já e tenha acesso imediato a todo o conteúdo
Veja aqui o que o legjur pode lhe oferecer

Assinatura Mensal

Assine o LegJur e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos! Cancele a qualquer hora.

R$ 29,90

À vista

1 mês

Acesse o LegJur por 1 mês e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!

R$ 39,90

Parcele em até 3x sem juros

3 meses

Equilave a R$ 39,96 por mês

Acesse o LegJur por 3 meses e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!

R$ 119,90

Parcele em até 6x sem juros

6 meses

Equilave a R$ 32,48 por mês

Acesse o LegJur por 6 meses e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!

R$ 194,90

Parcele em até 6x sem juros

12 meses + 2 meses de Brinde

Equilave a R$ 24,90 por mês

Acesse o LegJur por 1 ano e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!

R$ 349,90

Parcele em até 10x sem juros

A cópia de conteúdo desta área está desabilitada, para copiar o conteúdo você deve ser assinante do site.