Modelo de Recurso de Apelação em Caso de Posse de Substâncias Ilícitas com Pedido de Nulidade de Provas e Revisão de Pena e Multa

Publicado em: 05/03/2025 Advogado Direito Penal Processo Penal
Recurso de apelação interposto pela defesa de M. A. F. da S., questionando sentença condenatória de 4 anos e 2 meses de reclusão e aplicação de multa no valor de R$ 25.300,00. O recurso fundamenta-se na nulidade das provas obtidas por invasão de domicílio sem mandado judicial, violando o art. 5º, XI, da Constituição Federal, e na desproporcionalidade da dosimetria da pena e da multa aplicada. A defesa também pleiteia a aplicação do redutor do tráfico privilegiado em seu patamar máximo (2/3), conforme previsto no art. 33, §4º, da Lei 11.343/2006.

RECURSO DE APELAÇÃO

PREÂMBULO

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ___ Vara Criminal da Comarca de Catentede/PE,

M. A. F. da S., já qualificado nos autos do processo em epígrafe, por intermédio de seu advogado que esta subscreve, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento no CPC/2015, art. 319, interpor o presente RECURSO DE APELAÇÃO, em face da sentença condenatória proferida nos autos, pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos.

Requer-se, desde já, o regular processamento do presente recurso, com a remessa dos autos ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco.

DOS FATOS

No dia 02 de agosto de 2023, por volta das 23h, nas imediações da localidade conhecida como “Tiro de Guerra”, Bairro Centro, Catentede/PE, o apelante foi preso em flagrante por supostamente deter em sua posse, em desacordo com a lei, 20 (vinte) porções de maconha (16 gramas) e 06 (seis) pedras de crack. A prisão ocorreu após denúncia anônima, que levou os policiais a invadirem a residência do apelante sem mandado judicial.

Na sentença, o apelante foi condenado a 04 (quatro) anos e 02 (dois) meses de reclusão, além de 416 (quatrocentos e dezesseis) dias-multa, com valor fixado em 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à época dos fatos. O regime inicial foi fixado como aberto, e a prisão preventiva foi revogada, concedendo-se ao apelante o direito de recorrer em liberdade.

Contudo, a defesa entende que a sentença merece reforma, considerando a nulidade da prova obtida mediante invasão de domicílio sem mandado judicial e a desproporcionalidade da pena fixada, especialmente no tocante à multa aplicada.

DO DIREITO

Inicialmente, cumpre destacar que a inviolabilidade do domicílio é um direito fundamental garantido pela CF/88, art. 5º, XI, que somente pode ser excepcionado em casos de flagrante delito, desastre, para prestar socorro ou mediante determinação judicial. No caso em tela, os policiais invadiram a residência do apelante sem mandado judicial, baseando-se apenas em denúncia anônima, o que configura violação ao referido dispositivo constitucional.

Ademais, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é clara ao afirmar que a entrada em domicílio sem mandado judicial exige fundadas razões que indiquem a ocorrência de flagrante delito, conforme entendimento consolidado no STF, Ag.Reg. no "'>...

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Informações complementares

Simulação de Voto

Relatório

Trata-se de recurso de apelação interposto por M. A. F. da S., condenado à pena de 4 anos e 2 meses de reclusão, além de 416 dias-multa, em regime inicial aberto, pela prática do crime previsto no art. 33, caput, da Lei 11.343/2006 (tráfico de drogas). O apelante foi flagrado com 20 porções de maconha e 6 pedras de crack, após denúncia anônima que resultou na invasão de sua residência sem mandado judicial. A defesa alega nulidade da prova obtida e desproporcionalidade na dosimetria da pena.

Voto

Em cumprimento ao dever constitucional de fundamentação das decisões judiciais, consagrado no art. 93, IX, da Constituição Federal de 1988, passo a analisar os argumentos expostos pela defesa à luz dos fatos e do direito aplicável.

1. Da Nulidade da Prova Obtida Mediante Invasão de Domicílio

A Constituição Federal, no art. 5º, XI, assegura a inviolabilidade do domicílio, salvo em caso de flagrante delito, desastre, para prestar socorro ou mediante determinação judicial. No presente caso, a entrada na residência do apelante foi realizada com base em denúncia anônima, sem que houvesse fundadas razões que indicassem a ocorrência de flagrante delito.

Conforme entendimento consolidado pelo Supremo Tribunal Federal (STF, Ag.Reg. no RE 1.298.036/RS), a entrada em domicílio sem mandado judicial exige a presença de motivos concretos que justifiquem a excepcionalidade da medida. A ausência desses elementos invalida a prova obtida, motivo pelo qual entendo que as provas colhidas pela polícia são ilícitas, nos termos do art. 5º, LVI, da Constituição Federal.

2. Da Dosimetria da Pena

No que se refere à dosimetria da pena, observo que a fixação de 416 dias-multa, no valor de R$ 50,60 por dia, totalizando R$ 25.300,00, não levou em consideração as condições econômicas do apelante, violando o princípio da proporcionalidade. O Código Penal, em seu art. 60, estabelece que o valor da multa deve ser ajustado à capacidade econômica do réu, o que não foi observado no presente caso.

Além disso, a aplicação do redutor previsto no art. 33, §4º, da Lei 11.343/2006, em apenas 1/6 da pena-base, não reflete adequadamente as circunstâncias favoráveis ao apelante, que é primário, possui bons antecedentes e não integra organização criminosa. Entendo que o redutor deve ser aplicado em seu patamar máximo de 2/3, em conformidade com a jurisprudência do STJ (AgRg no HC Acórdão/STJ).

3. Da Jurisprudência Aplicável

A jurisprudência pátria corrobora o entendimento de que a entrada em domicílio sem mandado judicial, sem fundadas razões, configura violação ao direito fundamental da inviolabilidade do lar. Ademais, a proporcionalidade na fixação da multa e a aplicação do redutor do tráfico privilegiado devem observar as particularidades do caso concreto, conforme se verifica nos seguintes precedentes:

  • STF, Ag.Reg. no RE 1.298.036/RS: \"A entrada em domicílio sem mandado judicial exige fundadas razões que indiquem a ocorrência de flagrante delito, sob pena de nulidade das provas obtidas.\"
  • STJ, AgRg no HC Acórdão/STJ: \"A aplicação do redutor do tráfico privilegiado é cabível quando preenchidos os requisitos legais, observando-se a primariedade, bons antecedentes e ausência de vínculo com organização criminosa.\"
  • TJSP, Apelação Criminal Acórdão/TJSP: \"A fixação do valor da multa deve observar as condições econômicas do réu, sob pena de violação ao princípio da proporcionalidade.\"

Conclusão

Diante do exposto, voto no sentido de dar parcial provimento ao recurso de apelação para:

  1. Declarar a nulidade das provas obtidas mediante invasão de domicílio sem mandado judicial, com a consequente absolvição do apelante nos termos do art. 386, II, do Código de Processo Penal.
  2. Subsidiariamente, caso não acolhida a nulidade, reduzir a pena aplicada, com a aplicação do redutor do art. 33, §4º, da Lei 11.343/2006, em seu patamar máximo (2/3), e revisar o valor da multa, adequando-o à condição econômica do apelante.

É como voto.


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