Jurisprudência em Destaque
Análise Jurídica de Acórdão do STJ sobre Demolição de Rancho de Pesca em Área de Preservação Permanente (APP) e Reparação Ambiental
Doc. LEGJUR 240.9040.1672.8649
1 - Sendo incontroverso nos autos, mediante afirmação do próprio agravado, não ser o imóvel destinado a uso comercial, a natureza turística do bem configura questão de direito, afastando a incidência da Súmula 7/STJ («A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial»). ... ()

Comentário/Nota
ANÁLISE JURÍDICA DO ACÓRDÃO
INTRODUÇÃO
A decisão em análise trata de uma controvérsia jurídica envolvendo a construção de um rancho de pesca em área de preservação permanente (APP), cujo uso foi destinado exclusivamente ao lazer privado. A controvérsia foi submetida ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), que, ao julgar o agravo interno interposto pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul, reafirmou a necessidade de reparação ambiental e a demolição do imóvel irregular.
FUNDAMENTOS JURÍDICOS
A Segunda Turma do STJ fundamentou sua decisão na interpretação restritiva do art. 61-A do Código Florestal, que prevê hipóteses excepcionais para a manutenção de construções em APPs. De acordo com o julgado, a construção de um rancho de pesca destinado ao lazer privado não se enquadra nas exceções previstas na legislação, especialmente pela ausência de caráter comercial ou de exploração turística.
O Tribunal também destacou que a caracterização de turismo, para fins de análise ambiental, exige a existência de atividades econômicas vinculadas ao imóvel, o que não foi comprovado no caso concreto. Tal entendimento reforça a proteção ao meio ambiente, em consonância com o princípio da precaução previsto na CF/88, art. 225.
Além disso, o STJ afastou a aplicação da Súmula 7/STJ, que impede o reexame de provas em sede de recurso especial. Isso foi possível porque a controvérsia jurídica girava em torno da interpretação normativa e não da análise do conjunto probatório, o que permitiu ao Tribunal revisar o enquadramento jurídico dado pela instância inferior.
CONSEQUÊNCIAS PRÁTICAS E JURÍDICAS
A decisão determinou a demolição do imóvel irregular e estipulou que a indenização pelos danos ambientais causados seja apurada em liquidação de sentença. Esta medida reforça a importância da reparação integral do meio ambiente, conforme previsto na CF/88, art. 225, caput, e no CCB/2002, art. 927, que tratam da responsabilidade civil decorrente de danos ambientais.
Praticamente, esta decisão tem potencial para inibir condutas semelhantes, reafirmando que nenhum interesse particular pode se sobrepor à proteção de áreas ambientalmente sensíveis. A posição do STJ também indica um esforço para garantir que as normas ambientais sejam interpretadas de forma estrita, a fim de evitar flexibilizações indevidas que possam comprometer a tutela do meio ambiente.
CRÍTICA E ANÁLISE
O acórdão da Segunda Turma merece elogios por sua abordagem criteriosa e técnica, especialmente ao reforçar a prioridade da proteção ambiental em detrimento de interesses individuais. A interpretação restritiva do art. 61-A do Código Florestal demonstra um alinhamento com os princípios constitucionais que regem a proteção do meio ambiente, como o princípio da prevenção e da precaução.
Entretanto, a decisão também suscita reflexões sobre a complexidade de conciliar direitos individuais e interesses coletivos. Embora a demolição de imóveis irregulares seja uma medida necessária para a recuperação ambiental, ela pode gerar questionamentos sobre a proporcionalidade da sanção, especialmente em casos onde os danos ambientais sejam de menor intensidade.
IMPACTOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO
Esta decisão contribui para consolidar a jurisprudência ambiental do STJ no sentido de que áreas de preservação permanente devem ser protegidas de forma rigorosa, independente do uso que se pretenda atribuir ao imóvel. Além disso, ao afastar a aplicação da Súmula 7/STJ, o Tribunal reforçou a possibilidade de revisão de enquadramentos jurídicos em casos que envolvam interpretação normativa, o que pode ampliar o alcance de recursos especiais em matérias ambientais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A decisão analisada reflete uma postura firme do STJ em defesa da proteção do meio ambiente, reafirmando a necessidade de reparar integralmente os danos causados por construções irregulares em APPs. Além de representar um avanço na aplicação do direito ambiental, o julgado serve como um importante precedente para a atuação de órgãos como o Ministério Público em defesa do patrimônio natural.
Por outro lado, a decisão também provoca discussões sobre a proporcionalidade das medidas sancionatórias e o papel do Poder Judiciário na mediação de conflitos entre interesses individuais e coletivos. É possível que o rigor adotado neste caso inspire novos debates sobre a interpretação e a aplicação das normas ambientais no Brasil.
Outras notícias semelhantes

STJ Confirma Prescrição em Ação de Indenização por Dano Ambiental Individual: Tema 999 do STF não se Aplica
Publicado em: 15/09/2024O Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a decisão que reconheceu a prescrição em ação de indenização por dano ambiental individual proposta contra a Vale S.A. O autor alegava prejuízos em sua propriedade decorrentes de um acidente ambiental ocorrido em 2000, mas a ação foi ajuizada apenas em 2019. O STJ reforçou que, diferentemente dos danos ambientais difusos, que são imprescritíveis, os danos individuais relacionados ao meio ambiente seguem as regras gerais de prescrição, iniciando a contagem a partir da ciência inequívoca do fato gerador.
Acessar
STJ Confirma Dever Estatal de Transparência Ativa e Produção de Informações Ambientais: Obrigatoriedade de Publicação de Relatórios de Plano de Manejo
Publicado em: 18/09/2024O Superior Tribunal de Justiça (STJ) reafirma a importância da transparência ambiental ativa, determinando que a administração pública tem a obrigação de produzir e divulgar periodicamente relatórios sobre o Plano de Manejo de Áreas de Proteção Ambiental (APA). Essa decisão reforça o direito de acesso à informação ambiental, um princípio fundamental no Estado Democrático de Direito, e define que a negativa do dever de transparência deve ser justificadamente motivada.
Acessar
STJ Confirma Legitimidade Passiva de Empresa em Caso de Dano Ambiental e Moral Coletivo
Publicado em: 04/07/2024O Superior Tribunal de Justiça (STJ) reconheceu a legitimidade passiva de uma empresa em ação civil pública relacionada a danos ambientais e morais coletivos, mesmo após a desapropriação do imóvel em questão. O relator, Ministro Gurgel de Faria, destacou que a responsabilidade ambiental é solidária e que a desapropriação não exime a empresa de suas obrigações.
AcessarTransforme seu escritório de advocacia com informações legais atualizadas e relevantes!
Olá Advogado(a),
Você já pensou sobre o tempo e os recursos que gasta pesquisando leis, jurisprudências e doutrinas para os seus casos? Já se imaginou otimizando esse processo de forma eficiente e segura?
Então, temos algo em comum. O LegJur foi criado pensando em você, no advogado moderno que não pode se dar ao luxo de perder tempo em um mercado tão competitivo.
Por que o LegJur é a solução que você precisa?
1. Conteúdo Atualizado: Nosso banco de dados é atualizado constantemente, oferecendo as informações mais recentes sobre legislações, súmulas e jurisprudências.
2. Fácil Acesso: Uma plataforma simples e intuitiva que você pode acessar de qualquer dispositivo, a qualquer momento. Seu escritório fica tão flexível quanto você.
3. Busca Inteligente: Nosso algoritmo avançado torna sua pesquisa rápida e eficaz, sugerindo temas correlatos e opções para refinar sua busca.
4. Confiabilidade: Nosso time de especialistas trabalha incansavelmente para garantir a qualidade e a confiabilidade das informações disponíveis.
5. Economia de Tempo: Deixe de lado as horas de pesquisa em múltiplas fontes. Aqui, você encontra tudo o que precisa em um só lugar.
Invista no seu maior capital: o tempo
Você já deve saber que o tempo é um dos ativos mais preciosos na advocacia. Utilize o LegJur para maximizar sua eficiência, oferecendo ao seu cliente uma consultoria de alto nível fundamentada em informações confiáveis e atualizadas.
Depoimentos
"O LegJur transformou a forma como faço minha pesquisa jurídica. Agora, posso concentrar-me mais no desenvolvimento de estratégias para meus casos e menos na busca de informações."
— Maria L., Advogada
Não perca mais tempo! Torne-se membro do LegJur e eleve sua prática jurídica a um novo patamar.
Faça parte da evolução na advocacia. Faça parte do LegJur.
Assine o LegJur e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos! Cancele a qualquer hora.
À vista
Acesse o LegJur por 1 mês e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!
Parcele em até 3x sem juros
Equilave a R$ 39,96 por mês
Acesse o LegJur por 3 meses e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!
Parcele em até 6x sem juros
Equilave a R$ 32,48 por mês
Acesse o LegJur por 6 meses e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!
Parcele em até 6x sem juros
Equilave a R$ 24,90 por mês
Acesse o LegJur por 1 ano e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!
Parcele em até 6x sem juros