Modelo de Razões de Apelação em Ação de Rescisão Contratual de Compra e Venda de Lote Urbano: Redução de Cláusula Penal Abusiva, Restituição de Valores Pagos e Limitação de Deduções

Publicado em: 04/11/2024 CivelConsumidor Direito Imobiliário
Modelo completo de razões de apelação interposto por comprador de lote urbano em face de sentença que, em ação de rescisão contratual cumulada com restituição de valores pagos, autorizou retenção de 20% a título de cláusula penal e dedução de despesas de corretagem. O recurso pleiteia a redução da penalidade para percentual razoável (não superior a 10%), a limitação das deduções ao efetivo prejuízo comprovado pela vendedora e o afastamento de taxa de fruição, fundamentando-se em dispositivos do Código Civil, Código de Defesa do Consumidor, Lei de Incorporações, princípios da boa-fé, equidade e vedação ao enriquecimento sem causa, além de vasta jurisprudência do STJ e TJSP.

RAZÕES DE APELAÇÃO

1. ENDEREÇAMENTO

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da __ª Vara Cível da Comarca de [Cidade/UF], com remessa ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de [Estado].

2. TEMPESTIVIDADE E PREPARO

O Apelante, A. J. dos S., já devidamente qualificado nos autos do processo nº [número do processo], por seu advogado infra-assinado, vem, respeitosamente, apresentar suas razões de apelação contra a r. sentença de fls. [indicar fls.], proferida nos autos da ação de rescisão contratual c/c restituição de valores pagos, em face de [Nome da Incorporadora ou Vendedora, ex: E. L. Empreendimentos Imobiliários Ltda.], igualmente qualificada.

A presente apelação é tempestiva, pois interposta dentro do prazo legal de 15 (quinze) dias úteis, nos termos do CPC/2015, art. 1.003, § 5º. O preparo recursal foi devidamente recolhido, conforme guia anexa, nos termos do CPC/2015, art. 1.007.

3. SÍNTESE DOS FATOS

O Apelante firmou com a Apelada contrato de compra e venda de lote urbano, comprometendo-se ao pagamento parcelado do preço ajustado. Contudo, em virtude de perda de emprego e consequente agravamento de sua situação financeira, tornou-se impossível a continuidade do adimplemento das parcelas, motivo pelo qual requereu a rescisão contratual e a restituição dos valores pagos.

A r. sentença de primeiro grau julgou a ação parcialmente procedente, determinando a rescisão do contrato e a restituição de 80% dos valores pagos pelo Apelante, autorizando a retenção de 20% a título de cláusula penal, além da dedução de despesas de corretagem. A decisão fundamentou-se na suposta validade da cláusula penal contratual, sem atentar para a sua natureza leonina e desproporcional, bem como para a aplicação dos princípios do Código de Defesa do Consumidor e da legislação civil.

O objetivo principal do presente recurso é afastar a aplicação da cláusula penal em percentual excessivo (20%) e a dedução de valores que extrapolam o razoável, buscando a redução da verba dedutível e a restituição mais justa dos valores pagos pelo Apelante.

4. DOS FUNDAMENTOS DO RECURSO

A r. sentença merece reforma, pois aplicou cláusula penal manifestamente abusiva, em afronta aos princípios da razoabilidade, equidade, boa-fé objetiva e à legislação consumerista. A retenção de 20% sobre o total pago pelo Apelante, somada à dedução de despesas de corretagem, caracteriza-se como enriquecimento sem causa da Apelada, em prejuízo do consumidor hipossuficiente.

O Código Civil, art. 413, estabelece que a penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, como ocorre no caso em tela. Ademais, o CDC, art. 51, § 1º, III, considera nulas as cláusulas que estabeleçam obrigações abusivas ou que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada.

A jurisprudência consolidada do Superior Tribunal de Justiça e dos Tribunais Estaduais tem limitado a retenção, em casos análogos, a patamares entre 10% e 25% das quantias efetivamente pagas, nunca sobre o valor total do contrato, e sempre considerando as peculiaridades do caso concreto, especialmente quando não há demonstração de prejuízo efetivo pelo vendedor e o imóvel não foi fruído pelo comprador.

No presente caso, o Apelante jamais teve a posse do lote, tampouco usufruiu economicamente do bem, não havendo fundamento para a retenção de percentual elevado ou dedução de despesas que não guardam relação direta com o prejuízo efetivamente suportado pela Apelada.

Assim, requer-se a redução da cláusula penal para percentual razoável, não superior a 10% das quantias efetivamente pagas, afastando-se a dedução de valores que não correspondam a prejuízo real, em consonância com a legislação e a jurisprudência dominante.

5. DO DIREITO

5.1. DA ABUSIVIDADE DA CLÁUSULA PENAL E DA NECESSIDADE DE REDUÇÃO

O Código Civil, art. 413, dispõe que "a penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio". No caso, a retenção de 20% sobre o valor pago, acrescida de outras deduções, revela-se excessiva e desproporcional, especialmente diante da ausência de fruição do imóvel pelo Apelante.

O CDC, art. 51, § 1º, III, prevê a nulidade de cláusulas que estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade. A cláusula penal leon"'>...

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Legislação e Jurisprudência sobre o tema
Informações complementares

Simulação de Voto

Voto do Relator

Trata-se de recurso de apelação interposto por A. J. dos S. contra sentença que julgou parcialmente procedentes os pedidos formulados em ação de rescisão contratual cumulada com restituição de valores pagos, determinando a resolução do contrato e a devolução de 80% dos valores pagos, autorizando a retenção de 20% a título de cláusula penal, além da dedução de despesas de corretagem.

I - Admissibilidade

Presentes os pressupostos de admissibilidade recursal, especialmente a tempestividade (CPC/2015, art. 1.003, § 5º), o preparo regular (CPC/2015, art. 1.007) e a legitimidade das partes, conheço do recurso.

II - Síntese Fática

O Apelante celebrou contrato de compra e venda de lote urbano com a Apelada, comprometendo-se ao pagamento parcelado. Em razão de dificuldades financeiras advindas de perda de emprego, requereu a rescisão contratual e a restituição dos valores pagos. A sentença de origem determinou a devolução parcial dos valores, com retenção de 20% (cláusula penal) e dedução de despesas de corretagem.

III - Fundamentação

1. Da Cláusula Penal e sua Redução

O Código Civil, em seu art. 413, dispõe que "a penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo". No caso, verifica-se que a retenção de 20% sobre as quantias pagas, acrescida da dedução de despesas de corretagem, mostra-se desproporcional, mormente diante da ausência de fruição do imóvel pelo Apelante.

Ademais, o art. 51, §1º, III, do Código de Defesa do Consumidor, prevê a nulidade de cláusulas que imponham obrigações abusivas ou coloquem o consumidor em desvantagem exagerada. A Súmula 543 do STJ orienta que, "na hipótese de resolução de contrato de promessa de compra e venda de imóvel, por culpa do adquirente, a devolução das parcelas pagas é devida, admitida a retenção de parte das mesmas, a título de cláusula penal, desde que não seja abusiva".

Ressalto que a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e dos Tribunais Estaduais tem limitado a retenção, em situações análogas, a patamares entre 10% e 25% das quantias efetivamente pagas, conforme o caso concreto, especialmente quando não há fruição do imóvel.

“A cláusula penal de 10% sobre o valor total do contrato revela-se abusiva no caso concreto, especialmente diante da ausência de posse ou uso do imóvel pela autora. A retenção de 10% sobre as quantias pagas se mostra razoável e adequada, em consonância com os princípios do CDC (art. 51, § 1º, III) e o art. 413 do CC.” (TJSP, Ap. 1000431-03.2017.8.26.0493)

No presente caso, entendo que a retenção de 10% das quantias efetivamente pagas atende ao princípio da equidade, evitando o enriquecimento sem causa da vendedora (CC, art. 884).

2. Da Dedução de Despesas de Corretagem

A dedução de despesas de corretagem e outras verbas deve ser expressamente comprovada e limitada ao efetivo prejuízo da vendedora, sob pena de enriquecimento ilícito.

“A restituição dos valores pagos deve ser integral, salvo retenção razoável a título de cláusula penal, desde que não abusiva.” (STJ, REsp. Acórdão/STJ)

Não havendo comprovação nos autos de despesas efetivamente suportadas pela Apelada, deve ser afastada a dedução de tais valores.

3. Da Taxa de Fruição

Não é cabível a cobrança de taxa de fruição, pois restou incontroverso que o imóvel é lote não edificado e o Apelante não exerceu posse ou extração de benefício econômico do bem.

“A taxa de fruição não é devida, pois o imóvel em questão é um lote não edificado, impedindo a imediata exploração econômica pela autora.” (TJSP, Ap. 1000431-03.2017.8.26.0493)

4. Dos Princípios Constitucionais e Fundamentação Legal

O art. 93, IX, da Constituição Federal, impõe ao magistrado o dever de fundamentar suas decisões de forma clara, precisa e suficiente. O presente voto está amparado na legislação infraconstitucional (CC/2002, arts. 413 e 884; CDC, art. 51, § 1º, III), bem como nos princípios da razoabilidade, boa-fé objetiva, equilíbrio contratual e proteção ao consumidor (CF/88, art. 5º, XXXII).

IV - Dispositivo

Ante o exposto, conheço do recurso de apelação e lhe dou provimento para:

  1. Reduzir a retenção a título de cláusula penal ao percentual de 10% das quantias efetivamente pagas pelo Apelante;
  2. Afastar a dedução de despesas de corretagem e outras verbas, salvo comprovação efetiva de prejuízo pela Apelada;
  3. Reconhecer a impossibilidade de cobrança de taxa de fruição;
  4. Condenar a Apelada ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, nos termos do CPC/2015, art. 85;
  5. Intimar a Apelada para apresentação de contrarrazões, nos termos do CPC/2015, art. 1.010, § 1º.

É como voto.

[Cidade/UF], [data].
Juiz Relator


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